COMUNIDADE
UNIVERSITARIA
Nos tempos atuais os espíritos individualistas
se aguçam de tal forma que nos convidam a refletir a partir dos fatos que nos
atingem no dia a dia. Em particular, na comunidade universitária da UFPE
temos exemplos que nos preocupam seguidamente.
Os três segmentos, professores, servidores
técnicos administrativos em educação (TAE) e estudantes, compõem o que
chamamos de comunidade universitária. O dia a dia nos expõe a situações
esquisitas, que normalmente nós “deixamos pra lá” e, a cada absurdo que
aparece, logo, logo, vira normal e, pelo fato de não o interrompermos no
início, ficamos engolindo-o para todo o sempre.
A noção “do que é público” confunde muita
gente. Outro dia uma pessoa parou o carro no meio da rua e foi resolver um
problema particular. Embora algumas pessoas protestassem, o dono do veículo
alegou que “a rua é pública” e, portanto, ele podia se utilizar como bem
entendesse. É assim, também, que suportamos os sons altos dos vizinhos, de um
carro estacionado no bar, que dizem que a “rua é pública”! Exatamente por ser
público é que não pode ser utilizado da maneira que qualquer um queira! Daí a
necessidade da autoridade pública, do policial, do fiscal de meio ambiente,
etc, coibir o abuso, a falta de compreensão, ou a desdenha de indivíduos.
Na universidade também esse chavão vem se
aplicando paulatinamente, e crescentemente, em muitos ambientes e, cada vez
mais, se estabelece como “normal”, ou que “é assim mesmo”! Apesar dos
“gestores” estarem legalmente em condições de assumirem sua função e
corrigirem os problemas eles não os enfrentam, porque não querem entrar em
conflito.
Aqui na UFPE, nossa comunidade universitária
está perdendo o sentido do que seja comunitário e, além do mais, do que é
público!
Em visita a uma universidade na França percebi
uma situação que vale comparar com a nossa. A universidade tem seu prédio
escolar no centro da cidade e os laboratórios de pesquisa situados em outros
locais. Nas vezes em que lá estive, fui conhecer os laboratórios em companhia
de um professor local. Em todos os prédios que visitamos, inclusive nos
estacionamentos, o colega os acessava utilizando o seu cartão magnético de
identificação. Nunca houve impedimento, embora cada prédio tenha sua recepção
para atender os que chegam desacompanhados e não pertencem aos quadros da
universidade. É assim, aqui na nossa comunidade universitária? Claro que não.
Em alguns locais de circulação comum, nós somos obrigados a nos identificar e
não temos acesso aos estacionamentos. Se argumentarem que as vagas são
limitadas, podemos assegurar que lá na França também o são. E se o professor
chegar e não tiver vaga, estaciona fora do local dos professores!
Recentemente, como chefe de departamento, encaminhei
oficio ao Reitor solicitando abertura de uma comissão de sindicância para
investigar a responsabilidade de alguém, de um laboratório do CCB, que
assumiu a postura dos “coronéis” nordestinos e fechou o registro de água que
servia um laboratório vizinho. A água, paga pela UFPE, foi deliberadamente
“tomada de conta” por um pesquisador cioso de sua condição de “senhor de
engenho”: são os nossos “muros de Berlin”. O fato é que até o memento não
tive resposta do ofício, apesar de já ter resolvido o problema por outro
caminho.
No CCEN, um aluno de doutorado esperava há
mais de um mês pelo seu diploma para se inscrever numa “bolsa de sanduiche”
no exterior. A secretaria do curso dizia que faltava o carimbo do
coordenador. Além disso, o secretário, que está no sistema de 6h/dia, não
cumpre o horário e também fecha a secretaria nas sextas-feiras para
atendimento ao público! Uma tremenda irregularidade, pois deveria funcionar
12h/dia conforme EXIGE o Decreto da Flexibilização da Jornada de Trabalho
(Decreto1.590, 10/08/95). Como o aluno corria o risco de perder os prazos, tomou
a iniciativa de mandar fazer o tal carimbo, salvando sua situação e de
uma fila de outros alunos em igual situação.
Outro exemplo que constatamos é o que ocorre
na parada de ônibus do CFCH (externa ao campus). Ali, foi preparado, há
muitos anos, um espaço seguro e suficiente para os estudantes e outros
usuários aguardarem o transporte coletivo. Além disso, uma baia garante
espaço para o coletivo estacionar sem interromper a passagem dos veículos que
circulam na via principal. Todos sabem que esse espaço virou o que se conhece
como “a Pérsia”, ou outros codinomes. A reivindicação dos estudantes de terem
um espaço seguro e tranquilo para aguardarem os ônibus foi atendida
universidade, mas invadida pela folia de comerciantes informais (de todo tipo
de negócio). O aberrante é que vários estudantes, com bandeiras de luta pela
cidadania, acham agressiva a ideia de retirá-los de lá e resgatar a condição
de segurança de todos, ou mesmo a proposta de organizar o ambiente, de modo
que a função do local seja restabelecida. As pessoas são obrigadas a ficar em
plena rua (na baia), os ônibus param em plena via, criando um
congestionamento local do trânsito. A comunidade universitária se contradiz
mais uma vez.
Todas essas questões não dizem respeito a este
ou aquele gestor, em particular, mas à UFPE. É algo que envolve a todos nós.
É preciso colaborar com nós mesmos, nós que vivemos no campus o dia a dia.
Ascendino Silva
Depto. Engenharia Biomédica da UFPE.
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sábado, 12 de dezembro de 2015
COMUNIDADE UNIVERSITARIA
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